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sábado, 11 de abril de 2020

Sexta-feira Santa: Deus transforma a Cruz em Expressão de Amor - Confira a Homilia do dia proferida pelo Padre Francisco

Foto Pe. Francisco proferindo a Homilia do dia

No dia 10 de Abril ocorreu a Celebração da Sexta-feira da Paixão, na Igreja Matriz da Paróquia Santa Rita de Cássia de Paraipaba. A mesma contou com Celebrante Pe. José Wilson (pároco) e concelabrada pelo o Pe. Francisco das Chagas (vigário) que proferia a Homilia do dia. Segue abaixo o texto da Homilia da Sexta-Feira Santa.

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Caríssimos irmãos e irmãs, a liturgia da Sexta-feira Santa nos coloca diante do grande Mistério de nossa fé cristã: A Cruz. O Crucificado. Uma Liturgia que à medida que é solene, é dramática. Altar desnudo, cruzes veladas, nenhum ornamento... Quase não há palavras para exprimir o estupendo mistério que celebramos: o eterno Filho, Deus santo, vivo e verdadeiro, nesta tarde sacratíssima, por nós se entregou ao Pai, em total obediência, até à morte, e morte de cruz! Para contemplar o mistério hoje celebrado, tomemos, então, com temor e tremor, as palavras da Epístola aos Hebreus, que escutamos.

“Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que sofreu”. Eis aqui uma realidade que jamais poderemos compreender totalmente! O Filho eterno, o Filho que viveu sempre na intimidade do Pai, o Filho infinitamente amado pelo Pai, no seu caminho neste mundo, aprendeu a descobrir, cada dia, a vontade do seu Pai e a ela obedecer! Mais ainda: esta obediência lhe custou lágrimas, o fez sofrer! Toda a existência do Senhor Jesus foi uma total dedicação ao Pai, uma absoluta entrega, no dia-a-dia, nas pequenas coisas… Jesus foi procurando e descobrindo a vontade do Pai nos acontecimentos, nas pessoas, nas Escrituras… e, pouco a pouco, foi percebendo que esta vontade ia levá-lo à cruz. E ele, nosso Salvador, “com forte clamor e lágrimas”, foi se entregando, se esvaziando, se abandonando…

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Na longa narrativa do Evangelho, contemplamos o Senhor sendo preso, no Horto das Oliveiras, por aquele batalhão liderado por Judas; vimos como é conduzido diante do sumo sacerdote Caifás e como, depois de ser interrogado, recebe uma bofetada injusta de um dos servos. Depois, na presença de Pilatos, o povo gritava: "Crucifica-o, crucifica-o!”. E imediatamente Jesus é flagelado e coroado de espinhos. Podemos nos perguntar: Por que tudo isso? Como pode o coração humano transportar tanta maldade. Todas aquelas pessoas envolvidas teriam motivos para maltratar tanto aquele homem ao ponto de matá-lo daquela forma? O Evangelho continua: Jesus carrega o lenho na presença das pessoas que Ele amava; é despojado das suas vestes e, aparentemente, também da sua dignidade; e no momento da Crucificação, o Senhor dirige angustiado estas palavras a Deus Pai: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" Perguntamo-nos novamente: por que a Cruz? Por que o Mestre, o Amor, é tratado desta maneira? Teria mesmo Deus abandonado seu Filho?

Embora só possamos compreendê-lo parcialmente, a Crucificação nos revela que onde parece haver apenas fraqueza, Deus manifesta o seu poder sem limites; onde vemos fracasso, derrota, incompreensão e ódio, precisamente aí Jesus revela o grande poder de Deus: o poder de transformar a Cruz em expressão de Amor. Esta lógica da fé é vista na passagem da primeira para a segunda leitura. Enquanto Isaías nos mostra que este rosto "não tinha aparência que agradasse. Era o mais desprezado e abandonado de todos", a Epístola aos Hebreus proclama que há "trono da graça, a fim de alcançar misericórdia". O grito de Cristo, Chiara Lubich, fundadora do movimento dos Focolares nos diz: “Neste grito, Deus abre um acesso privilegiado e intenso ao seu próprio mistério de Amor, no qual todo sofrimento humano adquire sentido e torna-se possível a unidade que Ele deseja”. Não dá irmãos para embora isolados em nossas casas, não ouvirmos o Grito da humanidade inteira. Quantas vítimas do condid-19, quantas vidas ceifadas, quantas famílias órfãs, quantos irmãos passando necessidade financeira, sofrendo os sintomas de ansiedade, depressão, quantos gritos de socorro, e muitas vezes pensamos: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste ?”.

A crucificação nos revela que onde parece haver apenas fraqueza, Deus manifesta o seu poder sem limites. Esta foi a experiência de um dos condenados que estavam ao lado de Cristo no Gólgota. O "bom ladrão" experimenta no seu maior fracasso  como a cruz de Jesus se torna o lugar poderoso em que sabe que é perdoado e amado: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Vejamos o que Jesus nos ensina em meio a tanta dor, na Cruz, ouvimos ser pronunciada a palavra ‘Paraíso'.

A CRUZ É O SINAL CONCRETO DO AMOR DE DEUS

Foto Pe. Wilson em saudação a Santa Cruz

A Cruz transforma-se de instrumento de tortura, violência e desprezo em meio de salvação, um símbolo de esperança, pois tornou-se manifestação do amor gratuito e misericordioso de Deus, que se faz presente para nós de modo eminentemente eficaz nos sacramentos. Se professarmos do nosso Calvário diário, o Paraíso, se soubermos transformar o fardo do isolamento, as lamentações, as murmurações em sinal de esperança, reconheceremos com Cristo ao mistério de Amor. Por isso, convido vocês a experimentar o poder transformador do Amor de Deus, que na Cruz abraça a fraqueza e enche-a de esperança. Tornar nosso o símbolo da cruz significa ser, onde estivermos, um sinal concreto do amor de Deus. Em nossas famílias, em nossas amizades, todos nós podemos ser um sinal concreto de esperança.

Sabemos que tudo isso logo vai passar, e quando voltarmos a nos reunir, a celebrarmos juntos, a nos abraçarmos, que não deixemos de procurar a misericórdia divina na confissão; não poupemos esforços para participar frequentemente da Eucaristia, e por ela nos comprometermos com Cristo e sua Igreja. O outro ladrão não soube reconhecer a Cristo. Como os demais ali presentes, preferiu insultá-lo, blasfemá-lo. As vezes corremos esse risco, de estarmos ao lado do Senhor e não deixarmos ser amados e tocados por Ele.

Hoje não teremos o rito do beijo da santa cruz como fazemos toda celebração da Sexta-feira Santa. Mas teremos sim um momento de adoração. Quando preparava esta homilia, recebi uma mensagem de alguém perguntando justamente por que a Igreja usa o termo ‘Adoração da Cruz’, se a cruz é uma imagem, e assim estaríamos adorando imagens. Como esta pessoa, talvez haja tantas outras com a mesma dúvida. Nós adoramos a Santa Cruz porque ela foi o madeiro no qual o próprio Deus feito homem retirou a maldição do pecado que pesava sobre nós. A cruz era sinal de maldição, suplicio dos culpados e grandes marginais da sociedade. A família que tivesse um membro condenado a crucificação, toda ela era submetida à exclusão e ninguém mais andava naquela casa, porque aquele que morreu na cruz era considerado um amaldiçoado.

Cristo quis transformar esse sinal de maldição em sinal de benção. Mas, contudo, para entender melhor por que adoramos a Santa Cruz é preciso que compreendamos uma realidade: cada coisa contêm um significado. Por exemplo: beijar uma pessoa tem vários significados quando realizado em diversas circunstâncias. Uma criança que dá um beijo na sua mãe quer significar todo o carinho e agradecimento que sente por ela; duas pessoas que se dão os dois beijinhos sociais quando se reencontram, não querem significar mais que o prazer que sentem em celebrar dessa maneira ritual o fato de estarem juntas; dois namorados que se beijam querem expressar o amor que sentem mutuamente. Enfim, um beijo pode significar muito! No caso do beijo à Santa Cruz, trata-se de um beijo que se pode interpretar em relação a outro beijo, aquele que nós sacerdotes damos ao altar todos os dias ao começar e ao terminar a Santa Missa, que é um beijo cheio de amor, de respeito, de veneração, por exemplo.  Também é preciso que entendamos esse significado em relação à nossa capacidade de captá-lo e de dar significação aos nossos gestos. Portanto, ao adorar, ao beijar a santa cruz, estamos a olhar para o Crucificado e contemplar a nossa esperança. O nosso Salvador.

Não adoramos, no entanto, a materialidade da Cruz, mas tudo o que ela significa: Cristo crucificado nela, nosso único Senhor e Salvador. Esse contato com a Santa Cruz nesta sexta-feira santa deveria fazer com que pensássemos que estamos entrando em contato com o Mistério do Gólgota, estamos beijando o Senhor no ato central da nossa Redenção. Estamos aderindo-nos à Cruz, ao sofrimento, às afrontas, aos desprezos que Cristo sofre na Cruz. Beijar a Cruz e adorá-la significa entrar em contato com uma realidade muito exigente: pensemos no Cristo sofredor e glorioso e nos submetamos ao seu reinado.

Paradoxalmente, esse é um reinado que se manifesta de uma maneira que nos deixa um pouco confusos: um rei lastimado, derrotado, sem coroa a não a ser a de espinhos, sem vestes esplendorosas a não ser o manto de púrpura e de escárnio que depois lhe tiram, sem súditos a não ser Nossa Senhora e outras poucas pessoas que não se envergonharam e permaneceram fiéis. Longe de nós envergonharmo-nos na Cruz do Senhor. Nós aprendemos com o apóstolo São Paulo que Cristo crucificado é sabedoria e força de Deus para nós.

Na liturgia, rezamos: “Adoramos a vossa cruz, Senhor; louvamos e glorificamos a vossa santa ressurreição! Do madeiro da cruz veio a alegria no mundo inteiro”. A adoração da Santa Cruz é um gesto de fé e uma proclamação da vitória de Jesus. É também um gesto de esperança, que vem da experiência do poder transformador do amor de Deus.

Peçamos à Nossa Senhora que nos ajude também a estar perto da cruz, pois aí se revela a origem da esperança que, como cristãos, desejamos oferecer aos nossos contemporâneos.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

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